“Eric” não é o suspense que sua sinopse indica, tampouco a fantasia que seu poster leva a crer. A minissérie, que estreou há duas semanas na Netflix, é um drama com toque sarcástico sobre relações sociais e as angústia que nos devoram por dentro, às quais serve de alegoria óbvia o monstro azul no título a série.

Ambientada numa Nova York negligenciada e soturna da primeira metade dos anos 1980, quando crime, crise de moradia e epidemia de Aids eclodiam simultaneamente, a produção faz um competente trabalho de reconstrução. Afinadas também são as performance de Benedict Cumberbatch e Gaby Hoffmann.

O roteiro, porém, se perde na ambição de usar uma história humana singular e tenebrosa —um pai vê seu filho pré-adolescente desaparecer— para tocar em assuntos sociais muito diversos.

Em um espaço de seis episódios, a roteirista britânica Abi Morgan, cujo fascínio por temas políticos marca trabalhos anteriores (“As Sufragistas”, “Dama de Ferro”) passeia por questões complexas como a violência da pobreza, dependência química, corrupção, racismo, homofobia, transtorno mental, negligência parental, pedofilia e crime organizado.

Nenhuma delas, contudo, merece mais do que cenas difusas, resultando numa teia tênue que distrai o espectador da trama central sem recompensá-lo com algum insight. São como os detalhes perdidos no mural do menino Edgar (Ivan Morris Howe), sinais que o público eventualmente capta para chegar ao algo maior que a criadora da série pretende mostrar, mas falha.

Edgar é um menino de 9 anos com aptidão para o desenho que vive em Manhattan com os pais, Vincent (Cumberbatch) e Cassie (Hoffmann). O casal vive aos berros, e o menino se blinda com a imaginação.

O garoto vê no pai um monstro de intenção gentil e gestos bruscos, o que o leva a inventar Eric. Vincent, criador de um bem sucedido programa infantil com fantoches, é narcisista, esquizofrênico e alcoólatra; egresso de uma família rica, vive às turras com o pai e não consegue se conectar com o filho. Cassie é amorosa com o filho, mas se aliena em casos extraconjugais e vinho.

É no meio de uma dessas brigas que o menino some, engolido pela cidade, e outros personagens passam a pulular na tela para dar rosto às causas que o roteiro quer abordar.

O detetive encarregado do caso, Ledtoit (McKinley Belcher 3o) é negro, gay e tem um namorado prestes a morrer de Aids, em uma época em que ser gay era indizível; o codiretor do programa, Lennie (Dan Fogler), vive às voltas com michês; o vereador Costello (Jeff Hephner) protege uma empresa de lixo que serve de fachada ao narcotráfico; o sem-teto Yusuf (Bamar Kane) vive em uma cracolândia em túneis abandonados de metrô; e a mãe solo Cecile (Adepero Oduye) briga para que o sumiço de seu filho, negro, tenha a mesma atenção que o de Edgar, branco. Há ainda um pedófilo, um policial assassinado e uma máfia estrangeira.

O desempenho de Cumberbatch —seu sofrimento e sua perdição são tão pungentes que dá quase para tocá-los— e a força dessa Nova York sujona reconstruída seguram o espectador e justificam parte da expectativa pela série.

A sensação final, porém, é certo sufocamento por esse amálgama de subtramas cabeludas. Não precisava de tanto.

Os seis episódios de “Eric” estão disponíveis na Netflix


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Equipe Tretas & Resenhas – Pesquisa, produção e/ou adaptação, com informações da FONTE.

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