O britânico Neil Gaiman é desses autores que dão dor de cabeça na hora de classificar a sua literatura. Há 40 anos, ele estreava com uma biografia da banda Duran Duran. Depois vieram sucessos como a HQ “Sandman” e o romance “Deuses Americanos”, ambos adaptados para o streaming. Isso sem falar em “Coraline”, “O Oceano no Fim do Caminho”, “O Livro do Cemitério” e um conjunto que já beira os cem títulos.

Muito associado à fantasia, ao horror e ao sombrio, Gaiman tem também uma vasta obra para crianças e jovens. São histórias estranhas, inesperadas, que não têm medo de quebrar as expectativas do leitor nem de fugir correndo do tom recheado de ensinamentos e boas intenções.

Três desses livros acabam de ser relançados no Brasil pela Intrínseca. Antes no catálogo da Rocco, eles voltam agora às livrarias com novas traduções.

O mais interessante desse trio é “Cabelo Doido”, que mostra é bom exemplo da literatura pouco convencional de Gaiman para crianças. Na história, a garota Bonnie encontra uma personagem com cabelo maluco. Dentro das mechas e madeixas dele, convivem caçadores, ursos, dançarinos, cacatuas, balões gigantes, carrosséis e tobogãs.

É claro que a menina fica fascinada e pede para pentear a cabeleira. Para continuar este texto, será preciso contar o final do livro. Quando o narrador permite que Bonnie passe um pente pelos fios revoltados, ela logo é sugada e passa a viver também no meio do couro cabeludo do homem, onde começa a ensinar rimas para leões, brincar com papagaios e remendar o colete dos piratas. Fim.

Para o autor, o final feliz não é a ordem, o certinho, o topete penteado, o bom comportamento, a moral da história educativa. É o inverso. No fim, o cabelo segue desgrenhado, enquanto a menina vive uma anarquia fantástica entrelaçada pelos fios.

“O Alfabeto Perigoso” segue essa mesma lógica —ou a falta dela. Também relançado agora, com nova tradução feita pela poeta Bruna Beber, a obra se encaixa na grande tradição dos alfabetos, muito comuns na literatura infantojuvenil.

Nele, Gaiman apresenta duas crianças e uma gazela que navegam pelos subterrâneos e esgotos da cidade. Cada letra conta com dois versos, que são rimados com a estrofe da letra seguinte e dão vida a seres estranhos, enrolões, fobias, canalhas, monstros viciados em crimes, tortas assadas em bueiros e outras maluquices.

Enquanto Beber brinca com o português ao traduzir versos como “um leitor medroso/ só atrai urucubaca”, o ilustrador Gris Grimly exibe nas imagens ratos fedorentos, urubus, caveiras, além de crianças dentro de jaulas, enfiadas em caldeirões, presas a correntes e imersas em pesadelos que geram ao mesmo tempo medo e fascínio.

Já o terceiro relançamento é “Uma Menina Muito Amada”, que além de nova tradução recebeu também um novo título —a versão da Rocco se chamava “Menina Iluminada”, sendo que nenhum dos dois transmite muito bem o nome original em inglês, que é “Blueberry Girl”.

Aqui, o autor faz uma espécie de carta poética para a filha da americana Tori Amos, cantora que sofreu abortos antes de conseguir engravidar da menina. Embora escrito num contexto delicado, o texto é o menos interessante do ponto de vista literário.

Não há surpresas, mudanças de perspectiva nem jogos com a linguagem. O leitor não é questionado de suas certezas, terminando a leitura exatamente como começou, como se estivesse diante de um meme descartável —mas muito bem escrito— ou ouvisse Pedro Bial falando para usarmos filtro solar.

No campo da relação familiares, muito mais interessante é “O Dia em que Troquei Meu Pai por Dois Peixinhos Dourados”. Nessa obra, Gaiman apresenta um menino que propõe a permuta entre o próprio pai e os bichos de estimação de um colega. Lançado pela Rocco, mas já fora do catálogo da editora, o livro ainda pode ser encontrado em algumas lojas.


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Equipe Tretas & Resenhas – Pesquisa, produção e/ou adaptação, com informações da FONTE.

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