O Denis, amigo desde antes de você ser um projeto de gente, me escreveu numa crise de mal du siècle:
“Marcão, por favor, um comentário relacionando o doce pastoso com leite com o declínio da civilização, por favor, pra me distrair na fila da padaria.”
Em anexo, a foto que ilustra este texto.
Segue meu comentário:
Prezado Denis, Denito, Denílson,
Difícil não partilhar de seu desencanto.
Imagine se um de nós, por distração, levasse para casa um doce pastoso com leite com a certeza de ter adquirido doce de leite genuíno.
Imagine se comprássemos soro de leite e amido na ilusão de haver pagado por leite real, natural.
A indústria alimentícia atua de forma insidiosa. Ela sabe o poder das pequenas palavras. Sabe que uma preposição faz enorme diferença, que tocar “de” por “com” ilude multidões.
Multidões que querem ser iludidas, vale frisar. Pois o otário precede o golpista. Quem compra a boca pela metade do preço deveria saber que está levando meia boca.
Em outras palavras, só caem nesse golpe as antas irrecuperáveis.
Os tapires que vicejam e pastam pelas planícies do mundo, cada vez mais numerosos. O que nos leva a presumir que o declínio da civilização é um fato consumado e irreversível.
Ocorre que eu sou, apesar das aparências, um otimista.
Apesar de Bolsonaro, Trump, o apocalipse climático e o doce com leite, nunca houve momento melhor na existência humana.
No caso específico desse doce aí, os caras só trocaram a preposição porque a lei pressionou.
Antes, vendia-se mingau como se requeijão fosse.
Hoje, ao menos, trocam a preposição.
Espero que meu comentário tenha correspondido à sua expectativa.
Atenciosamente,
Marcos, Marcão, Marcoso, Bruta
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