Treinador de corrida profissional, atleta por amor e competitivo por natureza, Manuel Lago aprendeu, depois de mais de 15 anos nas trilhas de montanha, que o maior desafio de uma ultramaratona não é o físico, mas o mental.
Manuel iniciou seu percurso nas ultramaratonas em 2009, quando tinha 33 anos e o esporte ainda era pouco conhecido no Brasil. Hoje, ele se considera um “senhor” prestes a entrar no grupo dos 50 a 59 anos – mas todos esses anos lhe deram um nível de experiência que realmente só existe com o tempo, tentativa e erro. Ele já correu centenas de quilômetros em provas que desafiam corpo e mente, mas enxerga que o que mais o move hoje é algo menos visível: a busca por equilíbrio.
“Fui achando a dose certa. Exercício é remédio. Então, consegui encontrar a dose certa de exercício para o meu corpo, para continuar evoluindo sem regredir”, diz.
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Esse é o tipo de mentalidade que vem ao atleta depois de períodos mais complicados, como quando Manuel precisou rever o próprio ritmo após uma série de lesões na panturrilha, que ele chama de seu próprio “calcanhar de Aquiles”.
O treinador destaca que a transição veio depois da pandemia, quando passou por um processo de entendimento de que talvez não fosse mais o momento de focar em prêmios e vitórias, mas sim em performance.

“Era muito mais fácil ganhar provas”, disse. De lá para cá, o cenário mudou: o trail run (ou “corrida em trilha”) cresceu, os atletas ficaram mais jovens e mais fortes, e as disputas, mais intensas. “Eu sabia que chegaria o momento em que não seria mais tão competitivo. Ainda consigo ganhar uma prova ou outra, ficar entre os cinco primeiros, mas hoje é diferente”.
A mudança de perspectiva o levou a redefinir o que é sucesso. Essa virada o libertou da pressão por resultados e o fez retornar à paixão que sente pela corrida. “Ser competitivo, para mim, é me divertir. Eu sou a pressão”, destaca.
Equilíbrio na saúde
Com a experiência, veio também um novo olhar sobre saúde. Lago aprendeu a respeitar o próprio corpo, mas sem se prender à rigidez. “Conheço meu corpo cada vez mais, sei o que consigo e posso treinar, o que preciso comer, por exemplo, e entendo quantas vezes posso competir no ano para não me machucar”, explicou.
“Não faço dieta restritiva. Nunca fiz. Como muito chocolate, pão, manteiga, mas sempre sem abrir mão de líquidos, água e proteína”, disse.
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O sono, que antes era negligenciado, virou prioridade. Hoje, ele tenta dormir pelo menos sete horas por noite, embora admita que nem sempre consiga.
Além do descanso, há dois ingredientes que ele considera essenciais: consistência e disciplina. “Minha regra básica é não reclamar da rotina. Se dá para treinar às seis da manhã, ao meio-dia ou à noite, eu vou. Escolhi ser atleta como hobby, não profissão. Então, isso tem que ser prazeroso.”
Apoio e comunidade
Uma prova em Bariloche, na Argentina, foi um marco recente: 86,8 quilômetros, 4.750 metros de altimetria acumulada e o feito de completar abaixo das 12 horas. “Foi êxtase puro”, lembra.
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Acima de tudo, ele reforça que a ultramaratona é uma montanha-russa emocional: “Você vai estar no auge em algum momento e no fundo do poço em outro. Precisa saber lidar com os dois”. Mas o que mais o marcou não foi a linha de chegada, e sim o apoio que recebeu ao longo do caminho.

“Foi a primeira vez que tive uma equipe de alunos me acompanhando ao longo do percurso, e isso me deu muita força mental para chegar bem, feliz e inteiro. Quando ouvi eles gritando meu nome no posto de controle, senti uma energia absurda”, disse. Essa presença, diz ele, fez toda a diferença. “Muitas das provas que abandonei talvez eu tivesse completado se tivesse alguém ali para dar um abraço ou uma palavra de incentivo”, refletiu.
Mais do que atleta, Manuel Lago se vê como alguém que inspira. Treinador há anos, ele busca liderar pelo exemplo e acredita que o conhecimento precisa ser dividido para se multiplicar, algo que tenta demonstrar para os alunos. Ele fala com orgulho sobre a comunidade que construiu – alunos, amigos, parceiros e marcas que o acompanham desde o início.
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“Acho que isso é o que mais me motiva: ver que impacto positivamente a vida de tantas pessoas. É aquele conceito de ‘embrace your community’, abraçar a sua comunidade. Ser uma referência nesse grupo é algo que me engrandece.”
Próximo passo
Os planos para 2026 são audaciosos: duas provas de 100 km e uma de 160 km, todas em montanha. O objetivo é simples, mas impossível de medir só por números. “A corrida perfeita vai ser sempre a próxima”, disse.
E, para quem está começando, o conselho é claro: paciência. “Ninguém começa correndo 100 km de um dia para o outro. Comece pequeno, com metas curtas. A corrida não é sofrimento, é disciplina e consistência. Se você treina com regularidade, tudo fica mais fácil e prazeroso.”
Como bom treinador, ele encerra com uma analogia de mercado, talvez influência dos parceiros da XP, que o apoiam há anos: “Ninguém fica rico comprando uma ação hoje. Você fica rico investindo todo mês por 40 ou 50 anos. Com a corrida é igual. É constância, não milagre”, concluiu.
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