Com uma alta de 0,1%, o PIB do 3º trimestre de 2025 veio abaixo das expectativas de mercado e confirmou o cenário de desaceleração gradual da economia brasileira. Enquanto o agronegócio e a indústria de petróleo e gás sustentaram o resultado positivo, o consumo das famílias e o setor de serviços ficaram estagnados, refletindo o peso dos juros altos sobre a atividade doméstica.

Foco nos números

De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o avanço do terceiro trimestre deste ano em comparação ao mesmo período do ano passado foi de 1,8% e o acumulado dos últimos 12 meses foi de 2,7%. Estes percentuais estão acima da mediana do mercado, e foram impactados pela revisão de dados do IBGE, que apontou maior alta no PIB da agropecuária, segundo Rodolfo Margato, economista da XP.

“Na comparação com terceiro trimestre de 2024, houve moderada surpresa altista, com crescimento [do PIB] de 1,8%, ano contra ano, enquanto a projeção da XP era de 1,6% e a mediana de mercado tinha uma projeção de 1,7%. Isso ocorreu devido a revisões altistas na série histórica de dados, especialmente no PIB da agropecuária, em que houve mudança para cima no resultado do setor primário no primeiro semestre deste ano e mudança de peso relativo”, afirma Margato.

Leia também: IBGE revisa para baixo crescimento do PIB do Brasil no 2º tri e para cima o do 1º tri

O PIB do trimestre de 2025 somou R$ 3,2 trilhões – sendo R$ 2,8 trilhões referentes ao Valor Adicionado a preços básicos e R$ 449,3 bilhões aos Impostos sobre Produtos líquidos de Subsídios. A taxa de investimento, um dos principais termômetros sobre o crescimento futuro, ficou 0,1% abaixo do registrado no mesmo período em 2024. O indicador ficou em 17,3% no terceiro tri deste ano contra 17,4% no terceiro trimestre do ano passado, segundo o IBGE. Já a taxa de poupança permaneceu estável em 14,5%.

Pela ótica da produção, o setor de serviços avançou 0,1%. “Um avanço de apenas 0,1% mostra o quanto esse segmento está sofrendo — e tende a continuar sofrendo. É a consequência direta do alto endividamento das famílias, da Selic elevada e da crônica falta de produtividade do país. O Brasil não gera valor como deveria, e isso pesa de forma significativa sobre os serviços”, afirma Louzada.

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A agropecuária avançou 0,4%, dentro do previsto, impulsionada por milho, cana e café, seguindo o ritmo natural das safras.

Já a indústria teve alta de 0,8%, puxada pela indústria de transformação, setor automotivo e pela extração de petróleo e minério. Segundo Louzada, o setor foi beneficiado pela demanda externa, com a China comprando mais minério.

Na demanda, o consumo das famílias veio praticamente estável, com variação de 0,1%, o que indica perda de poder de compra. Já os gastos do governo tiveram crescimento de 1,3%, e é classificado como o principal motor do resultado, avalia Louzada.

Exportações avançam

Claudio Considera, pesquisador associado do FGV Ibre, destaca que as exportações avançaram 3,3%, reflexo da política do tarifaço imposta pelo governo de Donald Trump.

O aumento do imposto para os produtos brasileiros vendidos aos EUA refletiu na busca por novos parceiros comerciais e no comércio mais intensivo com a China, o que refletiu nos dados referentes ao terceiro trimestre deste ano, na avaliação de Considera.

“As tarifas efetivas não foram tão altas como pareceu. Certamente prejudicou alguns produtos isoladamente, fez muito barulho com café e carne, mas conseguimos contornar o tarifaço razoavelmente bem”, avalia o pesquisador da FGV.

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Na leitura geral, economia ‘andou de lado’

De acordo com Fabio Louzada, economista, planejador financeiro e fundador da Faculdade Brasileira de Negócios e Finanças (FBNF), qualquer desvio na projeção do mercado em relação ao resultado do PIB poderia ter provocado uma turbulência no mercado.

“Qualquer desvio mais expressivo poderia ter provocado turbulência. Um PIB mais forte reforçaria a tese do Banco Central de manter os juros altos por mais tempo — afastando a possibilidade de cortes no horizonte mais próximo e sinalizando uma economia mais aquecida. Uma queda maior do PIB colocaria pressão para acelerar o corte de juro”, afirma.

Assim, os dados reforçam a projeção dos especialistas. Para Pablo Spyer, conselheiro da Associação Nacional das Corretoras e Distribuidoras de Títulos e Valores Mobiliários, Câmbio e Mercadorias (Ancord), a leitura é de que a economia praticamente ficou de lado, mostrando a perda de ritmo dos serviços e uma acomodação mais forte do consumo das famílias, tendo como principal ponto de sustentação a indústria extrativa.

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André Valério, economista sênior do Banco Inter, avalia que o resultado reforça a tendência de acomodação do crescimento da economia. “Nos últimos 8 trimestres, o crescimento médio do PIB na comparação contra o mesmo trimestre do ano anterior foi de 3%. Esse trimestre marca um desvio dessa tendência, com o crescimento nessa métrica sendo de 1,8%”, diz.

Projeções

Valério avalia que, apesar dos resultados, a leitura ampla mostra uma economia “robusta”. “Ainda assim, vemos uma economia bastante robusta, e o PIB caminha para ter um crescimento robusto em 2025, acumulando alta de 2,4% até setembro, ainda crescendo acima da tendência pré-pandemia”, afirma. Nas projeções do Inter, o PIB de 2025 deve fechar com alta acumulada de 2,2%,

A revisão de dados do IBGE é o principal fator por trás da avaliação de que o PIB de 2025 será mais alto que o previamente esperado, segundo Rodolfo Margato, economista da XP. “Mesmo com o crescimento tímido no terceiro trimestre, de 0,1%, o PIB de 2025 deve ter crescimento de 2,3% na nossa avaliação contra expectativa anterior, de 2,1%, e mediana de mercado em 2%”, afirma.

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O Bradesco projeta crescimento no PIB de 2,1% no ano, com o resultado das revisões do PIB agropecuário do 1º trimestre.

O economista-chefe da Ativa Investimentos projeta crescimento menor. “Considerando esse carregamento, os novos dados setoriais e o cenário de política monetária ainda restritiva, nossa avaliação preliminar é de que o crescimento em 2025 tende a convergir para patamar 1,9%, revisto por nós que anteriormente projetávamos um PIB de 1,6% para o ano”, afirma.

Natalie Victal, economista-chefe da SulAmérica Investimentos, avalia que o resultado do PIB não muda o “plano de voo” do Banco Central, que mantém a política de juros restritiva para segurar a inflação, e deve segurar a mensagem de cautela sobre os dados econômicos.

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Para José Luiz Pagnussat, conselheiro federal do Cofecon, o PIB neste ano deve ficar próximo de 2,4%. Já Claudio Considera, pesquisador associado do FGV Ibre, a projeção de crescimento do PIB para 2025 é de 2,5%.

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Produzido e/ou adaptado por Equipe Tretas & Resenhas, com informações da fonte.

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