
Chavín de Huántar: El Rescate del Siglo: veja o trailer do filme
“Chavín de Huántar: O resgate do século” entrou em cartaz no Peru como a operação militar que o filme retrata. Bem pensado e fazendo barulho, virou uma espécie de “Tropa de Elite peruano”. Em pouco mais de um mês, bateu a marca de 1 milhão de espectadores e entrou para o ranking das produções mais vistas de todos os tempos no país.
A história real recontada ajudou: trata-se de um episódio do qual os peruanos têm orgulho, um resgate de 72 reféns da residência do embaixador japonês, em 1997.
Mas o filme, claro, foi além de explosões, túneis, maquetes e treinamento militar por vezes parecido com o do longa estrelado por Wagner Moura. Ainda sem previsão de estreia no Brasil, “Chavín de Huántar” tem promovido quase uma batalha entre quem exalta um épico necessário e quem enxerga apenas uma história mal contada.
O g1 viu o filme e acompanhou as discussões sobre ele na imprensa peruana e conta abaixo o que você precisa saber.
O que diz quem ELOGIA o filme?
Realismo militar inédito no cinema peruano: explosões reais, armas reais, consultoria direta dos militares de 1997.
Tensão bem construída: mesmo com o público já sabendo o desfecho, temos aqui 90 minutos de ação bem feitinha.
Foco humano nos soldados: o roteiro mostra as fragilidades, medos e vínculos familiares.
Locações impressionantes: as réplicas exatas dos túneis e da residência atacada são um ponto alto.
Orgulho peruano: o desfecho da história real enche o povo local de orgulho e, agora, a ideia é também mostrar que o Peru faz filmes de nível hollywoodiano.
O que diz quem CRITICA o filme?
Acusação de viés ideológico: uma parte dos peruanos tem dito que o filme é 100% a favor dos militares, apagando o contexto e certa complexidade do conflito.
Roteiro raso: os diálogos e cenas trazem personagens quase estereotipados, com uma pegada maniqueísta que prejudica o filme.
Problemas técnicos: alguns efeitos especiais não convencem e a trilha sonora é exagerada, deixando o filme um pouco fora do tom.
Reféns muito tranquilos: o roteiro não mostra de forma crível o pânico e os perrengues de quem ficou mais de dois meses preso.
Outros lados esquecidos: membros do Movimento Revolucionário Túpac Amaru, responsáveis pelas ações violentas retratadas, e políticos da época não têm suas personalidades desenvolvidas no filme.
Cena do filme ‘Chavín de Huántar: El Rescate del Siglo’
Divulgação
Qual é a história de ‘Chavín de Huántar’?
Em dezembro de 1996, militantes do Movimento Revolucionário Túpac Amaru (MRTA) invadiram a residência do embaixador japonês em Lima, fizeram 72 reféns e permaneceram lá por 126 dias.
Os membros do exército peruano cavaram túneis sob a casa, instalaram cargas explosivas e executaram um ataque que matou todos os membros do MRTA, resgatando todos os sequestrados. A operação foi chamada de “o resgate do século” e trouxe um sentimento de orgulho aos peruanos. Na sessão acompanhada pelo g1 em um cinema, os espectadores aplaudiram no final.
O que ficou de fora?
A ausência na trama mais citada em jornais e sites locais é a do então presidente Alberto Fujimori (1938-2024). Keiko Fujimori reclamou que o filme ignora o papel do pai, que autorizou e coordenou politicamente a operação. Há quem veja nisso uma tentativa de não trazer um viés político ao filme. É uma decisão que faz sentido do ponto de vista comercial.
Manquete construída para facilitar missão de resgate retratado no filme ‘Chavín de Huántar: El Rescate del Siglo’
Divulgação
Outras lacunas chamam atenção: pouco se vê sobre quem eram de fato os sequestradores e sobre falhas do Estado em crises anteriores. O diretor e roteirista espanhol Diego de León deixa claro que, para ele, só uma história vale a pena ser contada: a dos heróis militares do filme.
Estreante em longas, ele antes tinha feito curtas e a minissérie “Los Otros Libertadores”, que resgata o papel de heróis da guerra pela independência peruana, entre 1811 e 1828.
Polêmicas e questões técnicas
A produção fez do realismo seu principal trunfo para encher salas de cinema. De fato, A maioria das explosões parecem reais e os atores treinaram durante um mês, tendo militares como consultores. Por outro lado, “Chavín de Huántar” erra no tom e em certas limitações técnicas do longa, que podem ser justificadas por seu diretor pouco experiente.
Existem momentos, sobretudo na parte final da trama, em que a trilha sonora cresce nas cenas em que o silêncio poderia fazer mais sentido. E os reféns, como já mencionado, não transmitem o medo que se espera de pessoas presas por 126 dias.
Como eles vão ao banheiro e como passavam o tempo? Tiveram medo de morrer? Em que condições passaram esses mais de quatro meses? Há uma sensação de que a emoção de todos os personagens envolvidos foi higienizada para não roubar o protagonismo de uma narrativa heroica que tanto comove os peruanos.
Talvez o silêncio mais incômodo seja sobre denúncias de execuções extrajudiciais. Relatos de um médico militar, de representantes da Cruz Vermelha e de um refém japonês indicam que ao menos três integrantes do MRTA teriam sido capturados vivos e mortos depois. O filme não menciona nada disso. Também não aborda inconsistências na morte de um dos reféns, contrário ao governo Fujimori.
Para críticos mais exigentes, o filme acerta na obsessão pelo resgaste, de fato impressionante, mas escorrega no que escolhe deixar de fora. E essa ausência fala tão alto quanto a ação estrondosa que conduz a história.
Sem contar este contexto social e político, o filme fica aquém do que uma história tão impressionante poderia entregar. Nas mãos de José Padilha, por exemplo, teria rendido muito mais.
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